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sábado, 5 de novembro de 2011

Resenha do documentário Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá

No filme “Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá”, é feito um recorte singular sobre a globalização, a sociedade de consumo, as divisões que esta sociedade se encontra, o território, os efeitos famigerados da globalização, as crises que esta promove, as barreiras físicas e simbólicas postas pelo capitalismo como efeito da globalização, o papel da mídia e as revanches organizadas por suas maiores vítimas.

A crise se estabelece e Milton Santos faz este alerta quando afirma que: “O consumo é o grande fundamentalismo”. E é sagaz quando apresenta as três vertentes da globalização no mundo; a globalização como é posta, a globalização da perversidade e o mundo por uma outra globalização.

No decorrer do documentário é apresentada uma série de acontecimentos no mundo inteiro que focam a atenção nas causas que esta sociedade capitalista centraliza, a fim de obter benefícios próprios em detrimento da desorganização do território, da apropriação de bens comuns e do uso privado de riquezas mundiais por parte de uma minoria. Apropriações indevidas que geraram tensões por tentar deter grandes bens nas mãos de pequenos grupos, enquanto se assolava o estado de miséria e a sociedade crônica para todo o resto.

A tentativa de privatização da água potável em Cochabamba, Bolívia em 2000 e o 3º Fórum Mundial da Água em Kioto, Japão em 2003, foram eventos que chamaram a atenção do mundo para os efeitos da famigerada globalização frente à sociedade capitalista na qual vivemos.

Em meio à crise financeira , ao estado de caos que se encontra, tem-se o crescimento crônico do desemprego, a fome e o desabrigo que cada vez mais se alastra. Os baixos salários, o estado de mendicância e miséria em que as pessoas são postas, crescem diretamente proporcional ao que chamamos do segundo efeito da globalização, ou globalização da perversidade, em que a pobreza é vista com naturalidade.

Enquanto isto, a sociedade se divide em dois grandes grupos; “o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com receio do grupo dos que não comem.” (José de Castro). E Milton Santos ainda afirma que “produzimos mais comida do que consumimos”. E esta sociedade subdividida permanece criando barreiras de segregação. Sejam estas barreiras físicas – Muralha da China e Muro de Berlim – ou barreiras simbólicas – que é a que a Europa mantém contra os estrangeiros e clandestinos, a fronteira entre o México e o EEUU, onde a migração não é desejada.

Adiante os acontecimentos tem a mídia como a fábula da globalização, que assume o papel de intermediação diante desta, pois controla a interpretação do que acontece no mundo, em que não há produção excessiva de notícias, e sim de ruídos.

Contudo, a revanche é feita. Os grupos que são massacrados e postos à margem deste processo atroz de desenvolvimento global ganham força com seus movimentos e buscam reverter a ordem de tudo que está posto. A África e a América Latina são os gigantes despertando para os problemas que lhe são causados, e que não se promovem por quem lá habita e sim pelos grandes “olheiros” e investidores de mercado que ambicionam ganhar espaço para depois explorá-lo. E não há melhor modo de fazer isto, senão criando confrontos entre os grupos para adquirirem espaços de dominação.

Com o despertar destes grandes pólos de desenvolvimento, os espaços cada vez mais são tomados e causam incômodo. Daí tem os olhares do norte x os olhares do sul, que propicia a observação da diferenças de pólos econômicos em blocos capitalistas distintos; os que produzem e os que consomem. Numa fala mais íntima do que possa representar os grupos que tem e os grupos que não tem moeda de consumo numa sociedade que impera a globalização da perversidade.

E Milton Santos afirma que: “Não há cidadania no Brasil. A classe média não requer direitos, e sim privilégios.” O estado de cidadania nos é roubado pelo jogo de interesse no qual esta classe promove. Mas Milton Santos é perspicaz ao frisar que estas ações não são promovidas de modo estanque pelo Estado, e afirma que: “As fontes criadoras de diferenças e desigualdades são mais fortes que as ações do Estado. Para isto, é necessário um Estado socializante.”

Diante deste Estado socializante a ser construído há também uma sociedade e Milton Santos é muito feliz quando diz que esta sociedade na qual vivemos ainda é um ensaio; ela nunca existiu.


Referencias Bibliográfica

http://escrevivencia.wordpress.com

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ABORDAGEM CULTURAL NO CONCEITO
DE PAISAGEM

Marcelo Ramos licenciando em Geografia pela
Universidade de Guarulhos


Este texto é um pequeno resumo do livro “Espaço e Cultura” do Geógrafo Roberto Lobato Corrêa (UFRJ). É um debate a cerca da Geografia Cultural, o autor trás nesta publicação um estudo e divulgação da cultura a partir de sua dimensão espacial. Trouxemos para este resumo uma analise sobre o conceito de paisagem observada a partir do ponto de vista cultural das sociedades (dos Grupos) no planeta. Uma observação das naturezas culturais que modelam a paisagem no espaço no qual estão inseridos, onde a paisagem passa a ter um valor simbólico ou de valores, isso para cada grupo.

INTRODUÇÃO

A partir da década de 1980 a chamada Geografia cultural reaparece entre os Geógrafos com grande discussão a respeito da mesma. Observamos que não é encontrada uma homogeneidade no planeta, pelo contrário, existem diferentes grupos culturais em nossa sociedade, verifica-se uma constante transformação no espaço vivido no qual o próprio ser humano é o agente modelador do meio em que vivi. A Geografia Cultural renasce e vem sendo discutida e estudada através dos conceitos que a abarcam como uma nova Geografia Cultural, conforme é indicada pelos autores; Price e Lewis ².
As bases atuais da Geografia Cultural reinventada situam-se tanto na Geografia Alemã com Passarge e Schlüter, como na frança com Vidal De La Blache, mas certamente foi nos Estados Unidos com Sauer que a Geografia Cultural ganha maior expressão. Analisa-se que a idéia de globalização ( o processo de produção) modifica e transforma o planeta em toda a sua superfície, levando a uma ação de naturezas culturais no tempo e no espaço.

CORRÊA indica que para Sauer
A paisagem geográfica é vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma dada área é analisada morfologicamente, vendo-se a integração das formas entre si e o caráter orgânico ou quase orgânico delas. O tempo é uma variável fundamental. A paisagem cultural ou geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (1998, p.9)

A Geografia Cultural reaparece com muito êxito nas ultimas décadas e no Artigo Espaço e Cultura LOBATO CORRÊA resgata alguns temas específicos abordados pelos Geógrafos propondo um conjunto temático sobre a dimensão espacial da cultura, colocando em debate o conceito de paisagem cultural. Por sua vez a paisagem constitui para a Geografia um de seus conceitos chaves, o mesmo vem sendo atribuído por diversos geógrafos. Entendemos que trata-se de paisagem cultural um conjunto de formas materiais preparados e articulados entre-se no espaço, tais como: os campos, as demarcações, os caminhos, casas, centros urbanos, igrejas entre outros, ou seja, um mosaico de lugares com efeitos de cores e diversos tamanhos.

Essas ações que articuladas e sempre modifica o meio e transforma a paisagem é resultado da ação do homem sobre a natureza.
Observamos que a paisagem é de um lado o resultado de uma dada cultura que a modelou e, de outro se constitui em uma cultura principal. A paisagem é um retrato duradouro da sabedoria, que está atrelado a um processo de transformação do velho para o novo, da arquitetura antiga para a recente, transmitindo a cultura em vários aspectos tendo uma face funcional e outra simbólica. Por meio de seus elementos a paisagem cultural consegue mediar à passagem de conhecimentos de geração para geração.

Como matriz cultural as paisagens através de muitos de seus elementos “servem como mediação na transmissão de conhecimentos, valores ou símbolos” contribuindo para transferir de uma geração a outra o saber, crenças, sonhos e atitudes sociais. ROBERTO LOBATO CORRÊA*

A paisagem cultural não está presente da mesma maneira entre os representantes da sociedade, ou seja, não é composta igualmente, há uma variedade de valores e símbolos na paisagem, a observação da paisagem na cultura é criada e denominada pela maneira de pensamento ou pela origem de suas crenças e formas na sociedade.
Ao analisarmos observamos que a paisagem cultural se encontra no tempo e no espaço, mas por um lado sempre ouve uma difusão das idéias que as constituíram, levando em conta a origem socioeconômica na qual estão inserido no lugar ( espaço vivido) em nossa sociedade.

Cosgrove ¹² identifica dois tipos gerais de paisagens “O primeiro é a paisagem da cultura dominante, um dos meios através dos quais o grupo dominante tem o seu poder, o segundo é constituído pelas paisagens alternativas, criadas por grupos não dominantes e que apresenta menor visibilidade. (Cosgrove, 1999, p.104-105).

Segundo COSGROVE Um grupo dominante procurará impor sua própria experiência de mundo, suas próprias suposições tomadas como verdadeiras, como a objetiva e válida cultura para todas as pessoas. O poder é expresso e mantido na reprodução da cultura. Isto é melhor concretizado quando menos visível, quando as suposições culturais do grupo dominante aparecem simplesmente como senso comum. Isto é as vezes chamado de hegemonia cultural. Há, portanto, culturas dominantes e subdominantes ou alternativas, não apenas no sentido político, mas também em termos de sexo, idade e etnicidade. (Cosgrove, 1999, p.104-105).


No pensamento cultural o conceito de paisagem pode ter um valor simbólico, pois há uma ligação afetiva do indivíduo com o meio no qual ele próprio o transformou, ou seja, cada grupo cria uma característica própria para a sua cultura, é possível ler e observar a paisagem de cada grupo através da linguagem dos seus aspectos físicos da mesma.








Referências Bibliográficas:


CORRÊA, Roberto Lobato & ROZENDAHL, Zeny. Apresentando leituras sobre paisagem, tempo e cultura. In: CORRÊA, Roberto Lobato & ROZENDAHL, Zeny (orgs.).Paisagem, espaço e Cultura. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.123p. p.7-11

COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: Cultura e simbolismo nas paisagens humanas.